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    ...Sobre o Rei Lear

    Disciplina: Metodologia e pesquisa em direito

    Professora: Marcia Alvim

    Mestrando: Glauco


    Resenha:

    SHAKESPEARE, William. Rei Lear. São Paulo: Martin Claret, 2005.



        A peça teatral Rei Lear, de William Shakespeare, escrita entre 1605/1606, aborda toda a questão humana da epoca, suas aspirações e anseios, levando ao público os mais intimos sentimenos do homem, desvendando por trás daquela pessoa, laguém dotado de raiva, ódio, compaixão, amor, inveja e toda sorte de sacrilégios. A título de exemplo trazemos a relação do Rei para com suas três filhas

    Lear
    ...Digam-me, minhas filhas - já que pretendo abdicar de toda a autopridade, posses de terras e funções de estado-, qual das três poderei afirmar que tem mais amor, para que minha maior recompensa recaia onde se encontra o mérito natural. Goneril, minha filha mais velha, falará primeiro.

    Goneril
    Senhor, eu o amo mais do que podem exprimir quaisquer discursos; mais que a luz dos meus olhos, do que o espaço e a liberdade, acima de tudo que pode ser avaliado - rico ou sublime; não menos do que a vida, com sua graça, beleza, honra e saúde; tanto quanto um filho jamais amou um pai ou um pai jamais se viu amado; um amor que torna a fala inútil e a palavra incapaz. Eu o amo além de todos os valores disso tudo.

    Cordélia (à parte)
    E o que irá dizer Cordélia, agora? Ama; e cala.

    Lear
    De todos estes limites, incluindo o espaço desta linha a esta, florestas ensombradas e planícies cultivadas, os rios abundantes e as vastas pradarias, te faço aqui dona e senhora. Um direito perpétuo extensivo aos descendentes teus e da Albânia. Que diz nossa segunda filha, esposa de Cornualha, nossa amada Regana?

    Regana
    Eu sou feita do mesmo metal de minha irmã e julgo ter valor igual ao dela. Do fundo do coração acho que exprimiu também o meu amor, ao exprimir o dela; fica distante porém quando eu me declaro inimiga de quaisquer desses prazeres que os sentidos têm como supremos; só me sinto feliz em idolatrar Vossa Amada Alteza.

    Cordélia (à parte)
    E então, pobre Cordélia? Mas, contudo, não sei; pois teu amor, tenho certeza, é mais profundo do que tua. fala.

    Lear
    A ti, e aos que de ti descenderem, pertença para sempre este vasto terço de nosso belo reino, não menor em extensão, valor e encantos naturais do que foi dado a Goneril. agora, nossa alegria, embora a última e mais moça, por cujo amor juvenil os vinhedos da França e os prados de Borgonha disputam apaixonados; que poderás tu dizer que mereça um terço mais opulente do que o delas duas? Fala.

    Cordélia
    Nada, meu senhor.

    Lear
    Nada virá do nada. Fala outra vez.

    Cordélia
    Infeliz de mim que não consigo trazer meu coração até minha boca. Amo Vossa Majestade, como é meu dever, nem mais nem menos.

    Lear
    Vamos, vamos, Cordélia: corrige um pouco tua resposta, senão prejudicas tua herança.

    Cordélia
    Meu bom senhor, tu me geraste, me educaste, amaste. Retribuo cumprindo o meu dever de obedecer-te, honrar-te, e amar-te acima de todas as coisas. Mas para que minhas irmãs têm os maridos se afirmam que amam unicamente a ti? Creio que, ao casar, o homem cuja mão receber minha honra deverá levar também metade do meu amor, dos meus deveres e cuidados. Jamais me casarei como minhas irmãs, para continuar a amar meu pai - unicamente.

    Lear
    Mas, teu coração está no que dizes?

    Cordélia
    Está, meu bom senhor.

    Lear
    Tão jovem e tão dura?

    Cordélia
    Tão jovem, meu senhor, e verdadeira.

    Lear
    Pois se assim é, assim seja: tua verdade será então teu dote.(...) renego aqui todas as minhas obrigações de pai, parentesco e afinidade de sangue, e, de hoje em, diante, e para todo o sempre, te considero estranha a meu coração e a mim mesmo. (...) darei em meu peito acolhida, piedade e proteção igual a ti, que não és mais minha filha.


        Importante destacar, portanto, que a história se desenrola inicialmente na divisão do reino, tendo o Rei, ao dividí-lo, atribuir partes apenas às suas duas filhas, Goneril e Regane, exlcluindo a terceira, Cordélia. Uma vez de posse das terras, Goneril e Regane tanto tramaram contra o velho Rei que ele acabou ao relento, debaixo de uma tempestade, passando a noite em uma cabana habitada por um mendigo que todos juravam ser louco. Mas, nesse texto, nem tudo é o que parece ser.


        Em vez de indigente e louco, Edgar é um nobre, vítima do interesse e da ganância do irmão, que o traiu ao acusá-lo falsamente diante do pai, e o obrigou a buscar refúgio na floresta. Ele vai ajudar Cordélia — a filha expulsa do reino por aparentar indiferença diante da divisão da herança — a lutar para reaver o reino e a honra de Lear, ultrajada pelas duas filhas perversas. Escrita há quase 400 anos, Rei Lear (1606) é uma das peças mais famosas de Shakespeare.


        Tudo na presente peça teatral é tão sombrio que, mesmo em família, os personagens são incapazes de distinguir o amor verdadeiro da falsidade e da dissimulação. Rei Lear é uma história que até hoje perturba e inspira novos filmes, óperas e adaptações, mundialmente representadas.



        O texto impõe-se pela sua qualidade literária mundialmente reconhecida.


        A questão do poder e a sua representação nas tábuas de um palco continuam a ter uma importância excepcional no que toca ao seu aspecto dramático. O teatro de Shakespeare, mais do que para ser lido, é para ser visto e ouvido, e o texto tem, por isso, de sugerir uma dimensão visual na alusão semântica que transmite ao leitor/espectador.


        Esta parábola da arte de reinar e dos afetos, que condicionam ou perturbam a escolha do governante, tem raízes profundas na cultura e no imaginário popular.


     

        Na verdade SHAKESPEARE se funde num gênio popular. História bem conhecida e repetidas vezes contada, ela faz parte do repertório intelectual do espectador comum, sendo a sua encenação acessível a um largo público. O perfil psicológico do rei Lear, a sua aposta na sucessão, ao querer dar o reino à filha que mais o amasse, dão sinal de megalomania (Megalomania é um transtorno psicológico onde o doente tem ilusões de grandeza, poder e superioridade. É uma característica do transtorno afetivo bipolar), que é má conselheira em matéria política.


        Mas a junção do drama familiar com o problema da governação oferecia ao público uma intimidade que permitia ver de dentro, os chamados bastidores da História, o que este só capta nos seus efeitos exteriores, julgados como conseqüência política.


        A sutilidade na vida e na arte de governar, que se ganha com a experiência, abandona o rei Lear, deixa-o à mercê das paixões, da vaidade pessoal, levando à tragédia, cuja magnitude se impõe em toda a sua complexidade na sucessão das cenas que constituem a narrativa do drama. A sintonia entre o tema e as vivências do tradutor é perfeita e revela-se no desenrolar da trama.


        O rei protagonista representa um déspota pautado pela suposição de existir a lei de seu próprio gozo, a exemplo de Luiz XIV.


        Portanto, ele governa pelo submetimento, cuja contrapartida provoca, em alguns súditos, a identificação idólatra com seu despotismo e, em outros, desperta a obsessiva e ritual suposição de que dele emana uma lei a se obedecer, a ponto de ser venerado com lealdade, mesmo por aqueles que ele maltrata. O rei, ao propor às filhas uma incondicional demanda de amor e de cumplicidade, em troca de parte de seu reino, exemplifica uma proposta megalômana, que permitirá às mesmas lançar mão da perversão sedutória.


        Tal proposta de medir o amor das filhas elide qualquer relação fundada no amor, em favor de um pacto perverso.


        Já Cordélia, cuja relação com o pai é simbólica e amorosa, não necessita recorrer à sedução. Porém, o rei não pode suportar que ela rejeite sua demanda de identificação idólatra quando ela declara não ser somente filha, mas também mulher para ser amada e desejada por outro homem.


        Por esta razão, o rei não pode ouvir as advertências do conde de Kent sobre seu engano em deserdar Cordélia e abrir mão do reino para as duas filhas perversas. Isto porque, abrir mão de seu poder significa multifacetar o governar e isto poderia soar aos olhos do povo como uma confusão entre o pai severo e o pai humilhado, permitindo que as filhas o destituíssem do poder. Mas o conde recebe em troca de sua lealdade, a extradição.


        Percebe-se que a perversão vai comparecer em todos os personagens interessados em usurpar algum poder. As filhas, uma vez de posse do reino, recusam-se a abrigar os cavaleiros do pai, para assim destituí-lo de qualquer proteção e poder. Elas cinicamente justificam seu sadismo, de forma aparentemente sensata.


        Já Edmundo, filho bastardo do conde de Gloucester, toma a legitimidade do irmão como intrusão limitante de seu gozo e, por isso, justifica sua perversão colocando-se como credor do pai, por ter sido concebido “com mais fogo vital”.


        Goza sadicamente ao perceber ser “fácil enganar um pai crédulo e um irmão nobre, que não conhece a maldade”. Deste modo, fingindo lealdade a ambos, joga um contra o outro. Assim, como no drama maquiavélico, justifica seus atos a fim de usurpar para si a legitimidade e os bens do irmão e põe o pai ao encalço do filho supostamente traidor. Em seguida, ele aproveita para usurpar o título e os bens do pai. Isto porque, tendo conquistado sua confiança através da 4 manipulação, o pai lhe confidencia que ajudará o rei desamparado e que soube que o rei de França invadirá o país para restabelecer a ordem.


        Imediatamente ele delata o pai ao duque, marido de uma das herdeiras do rei. Este, supondo-se traído, demonstra sua perversidade facínora ao castigar o conde, que tenta contrariar seu gozo usurpador, arrancando-lhe os olhos. Seu sadismo é assim verbalizado: “ainda que não possamos condená-lo à morte sem a justiça formal, o nosso poder fará uma gentileza ao nosso ódio”.


        Deste modo, alia-se ao bastardo via especularidade sádica. Porém, é morto pela revolta de um servo do conde mutilado. Sua então viúva, fascinada pela perversão do bastardo, tenta seduzi-lo. O mesmo ocorre com sua irmã, que diz preferir perder a batalha ao seu objeto de desejo. Por isto esta última lhe propõe um pacto para eliminar seu marido, o duque de Albânia, já que ele tenta limitar a perversão da esposa ao perceber que “quem renega as suas origens não tem limite nem caráter” e diz: “a sabedoria e o caráter aos vis parecem vis” e “a imundície adora-se a si própria”.


        Por esta razão, o duque só aceita ir a guerra para defender a Inglaterra do invasor. Já Cordélia, apesar de ter sido vítima da severidade paterna, guarda deste pai humilhado um resquício de potência e, desta posição “histérica”, pretende reverter a impotência e banir a perversão.


        Para tal, reconcilia-se com o pai. A Inglaterra vence a batalha e o bastardo, supondo-se imune e impune por sua cumplicidade com as princesas, faz de Cordélia e do rei seus prisioneiros e manda enforcá-la, “colocando a culpa em seu próprio desespero”. O bastardo e as princesas são desmascarados em suas intenções e crimes e, sem saída para seu gozo, uma irmã envenena a outra, logo após suicídando-se. O rei não resiste a dor da perda da leal Cordélia, mas será simbolizado como “pai morto”, já que é colocado por seus fiéis súditos no lugar de pai ideal. Estes, em seu nome, restabelecem a lei.


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